terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Súditos] A estrada como a maior "professora da vida"

Entre garçons, levianas, raposas e uvas, são mais de 300 composições gravadas. Reginaldo fazia, em média, 20 espetáculos por mês em passagens por todo o Brasil. Entre seu público, súditos que agora lamentam a morte do Rei. “Sem dúvida uma grande perda para a música. Quem gosta de brega admira o trabalho dele”, afirma a DJ Manuh Beserra, que há um ano está à frente do projeto Arlindo Cai na Fossa, voltado para o repertório brega no Boteco do Arlindo, no Bairro de Fátima. “O brega perdeu um rei que dedicou toda sua vida a um gênero musical muitas vezes renegado”.
Além de se sobressair como o romântico cantor dos prazeres e desilusões das paixões, Reginaldo se firmou como defensor do gênero musical, muitas vezes, considerado menor. “O brega canta o que ninguém quer ouvir. As dores dos cornos, a vida das prostitutas e as angústias do amor. O brega é visceral, vem lá de dentro”, afirma Bele Câmara, graduanda em Jornalismo e pesquisadora da música brega e seus estereótipos femininos em trabalho acadêmico chamado “Levianas”, uma homenagem a Reginaldo.
“Nada pode ser mais ofensivamente verdadeiro do que as lamentações de Waldick Soriano, Odair José e do grande rei, Reginaldo Rossi. Pena que agora quem lamenta somos nós”, diz Bele. Para a pesquisadora, Reginaldo é destaque também pela “luta social discreta” que, por vezes, imprimia em sua música. “Para essas lutas eles só tinham uma defesa. ‘Tenho uma arma mais forte, sou feito de amor’, como cantava docemente embriagado Reginaldo Rossi”.
O jornalista Xico Sá, de batismo Francisco Reginaldo, lastimou a morte do seu “xará” nas redes sociais. Xico se diz orgulhoso do trabalho do artista. “O Recife canta Reginaldo como ideia da romântica canção dos trópicos que embala os corações que amam simplesmente a ideia do amor como guia, existência, gozo e surto”. “O que vai ser de nós sem ele é que ele vai ficar do lado sempre, não tem jeito. Amor eterno”, postou a cantora Karina Buhr. “A música Brega é talvez a mais popular. Seu rei está morto. Passou a vida fazendo o que mais amava: cantar”, compartilhou o apresentador Serginho Groisman na web.
Em entrevista ao O POVO em janeiro de 2006, Reginaldo falou sobre o carinho do público, dos muitos amigos e do preconceito ao brega. “Sou muito feliz. Tenho amigos maravilhosos. Agora, os pseudointelectuais que baterem comigo vão perder. Porque além de eu ter estudado um bocado, tenho a estrada, que é a maior professora da vida”. (Paulo Renato Abreu e Andressa Bittencourt / Especiais para O POVO).

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