Andressa Bittencourt (andressabitten@opovo.com.br)
Gorete (centro), com o marido e os três filhos em Buenos Aires. Foto: Arquivo Pessoal |
Imagine passar férias em uma cidade ou país diferente todos os anos, pagando um preço fixo pela hospedagem, além das passagens aéreas. Foi isso o que fez a comerciante Gorete Moura, 52, que aderiu com a família ao sistema de time sharing - também chamado “tempo compartilhado” ou “intercâmbio de férias” -, que consiste em adquirir o direito de usufruir diárias em um ou mais hotéis conveniados, pelo preço e tempo contratados.
Todos os anos, Gorete e a família viajam para conhecer cidades do Brasil. Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Natal são algumas pelas quais a família já passou nos últimos dez anos, a partir de quando adquiriram o primeiro pacote de intercâmbio de férias. Também já passaram uma semana em Buenos Aires, na Argentina.
Apenas quanto aos destinos internacionais é que a família faz ressalvas, uma vez que taxas extras são cobradas, como explica a estudante de Odontologia Janaina Moura, 26, filha de Gorete. “Mesmo que às vezes tenhamos que pagar a mais (para um quarto triplo, por exemplo), de um modo geral vale a pena”.
Assim como Gorete, quem se interessa em fazer esse tipo de programa pode encontrar companhias especializadas. RCI é uma delas, empresa norte-americana responsável pelo intercâmbio de férias entre mais de 4.600 empreendimentos em quase 100 países.
Segundo a RCI, é difícil determinar a variação de preços do time sharing, pois cada hotel afiliado é responsável por seus valores. Porém, é possível afirmar que existem no mercado programas que podem custar de R$ 7 mil a R$ 480 mil.
No Brasil, um dos destaques no setor é o Beach Park, que possui um programa de pacotes de intercâmbio de férias chamado Vacation Club. Cristiano Lemes, coordenador de marketing e vendas, afirma que o time sharing é mais econômico para o turista porque a compra das diárias é feita no “atacado”, ou seja, várias são adquiridas de uma vez. Pagando antecipadamente, o turista escapa das variações de tarifas.
Cuidados
Mas o time sharing requer alguns cuidados. Quem se interessar em aderir a um pacote em outro país deve estar atento à legislação consumerista, como alerta o advogado e economista Gustavo de Pauli Athayde.
Ele explica que esse tipo de negócio, em regra, é feito por meio de contrato de adesão, cujas cláusulas são pré-estabelecidas pelo vendedor, o que dificulta a discussão de condições após a compra. Por isso, é necessário analisar atentamente o contrato antes de assiná-lo, não fazer a aquisição por “impulso”.
O Código de Defesa do Consumidor garante a compensação na hipótese de o consumidor ter direitos ofendidos em razão do contrato de time sharing. A legislação prevê a possibilidade de arrependimento injustificado no prazo de sete dias (quando a contratação ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio), além da possibilidade de rescisão do contrato, mesmo após esse prazo, com a devolução integral dos valores pagos caso haja falha na prestação do serviço ou o não cumprimento nos termos ofertados.
É possível também a rescisão quando o consumidor é pressionado a contratar ou quando lhe são fornecidas informações inadequadas sobre o serviço.
Fractional
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-CE), Darlan Teixeira, explica que o time sharing chegou ao Brasil há cerca de 30 anos - por meio do fractional, modelo similar.
Porém não houve a aceitação do público como se esperava. Isso porque, segundo Darlan, o sistema original, ainda existente, exige o pagamento de alto valor para adquirir cota da unidade do hotel.
A psicóloga Bernadeth Andrade adquiriu há quase 20 anos o fractional de uma unidade em um resort em Orlando (EUA). Ela diz que era vantajoso, mas os custos foram aumentando. “Tentamos nos desfazer da unidade, mas eles colocam muitos empecilhos”, diz.
Beach Park é um dos destaques no Brasil
Desde 2006, o Beach Park oferece pacotes de time sharing com o programa Vacation Club. Segundo Cristiano Lemes, desde que foi implantado até hoje, o programa conta cada vez mais com a adesão do público nacional. De 30 a 40% dos que buscam se informar acerca dos pacotes se afiliam; hoje, são 14 mil associados ativos, exigindo a reserva de 49% da ocupação dos hotéis do Beach Park para o Vacation Club.
O cliente compra o direito de passar de 7 a 30 semanas no resort, que deve acontecer em até dez anos pelo sistema de pontos. À medida que as semanas vão sendo usufruídas, os pontos adquiridos são debitados até terminarem. A época do ano e a quantidade de pessoas que irão influenciam na quantidade de pontos descontados.
O turista também tem a possibilidade de passar as semanas em outros hotéis do Brasil ou de outros países que sejam afiliados à RCI. É preciso, porém, que haja disponibilidade nesses hotéis e que as reservas sejam feitas com antecedência.
Sem mencionar valores, Cristiano diz que, além do montante pago antecipadamente, a cada semana utilizada ainda é cobrada uma taxa de ocupação. O intercâmbio feito com outros hotéis, em regra, também demanda o pagamento de valores extras.
Por enquanto, apenas residentes no Brasil podem contratar o programa. O coordenador de marketing destaca, no entanto, que a ideia é possibilitar em breve que os domiciliados fora do País também possam aderir ao Vacation Club.
BATE-PRONTO
Maria Carolina Pinheiro, diretora geral da RCI Brasil
O POVO - Quais as perspectivas de desenvolvimento do time sharing no Brasil?
Maria Carolina - O mercado está bastante aquecido. Ano passado, nós colocamos 17 novos empreendimentos e este ano foram 22. Hoje já existem grandes players fazendo time sharing, como Beach Park e Rio Quente Resorts. Mas nós estamos engatinhando, temos grande perspectiva de crescimento. A quantidade de contratos aumenta a cada ano.
OP - De que forma o setor hoteleiro se beneficia?
Maria Carolina - Na venda antecipada das diárias. Ele vai antecipar o fluxo de caixa e ter ganho financeiro grande. Vai fidelizar o cliente e trabalhar a questão da oscilação da ocupação. Você não deixa de ter a hotelaria convencional, na verdade tem mais um canal de comercialização.
OP - De que forma o público brasileiro responde ao time sharing?
Maria Carolina - O retorno no público tem sido positivo. A pessoa compra como se fosse um “seguro de férias”: você faz uma poupança, paga um pouco por mês e tem direito a ter as férias garantidas por um período de 10, 15 anos, dependendo do produto que você comprar. É uma forma de planejar as férias no futuro.
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