quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Não Conta Lá em Casa: Um trabalho acadêmico

A equipe do Não Conta Lá em Casa: viagens aos destinos mais 
"polêmicos" do mundo

Se alguém dissesse na televisão que o Irã é um país amigável, estruturado e com pessoas gentis e intelectualizadas, talvez ninguém acreditasse. Diante de anos de veiculação preconceituosa na mídia, a imagem desse país tem sido frequentemente associada a guerras, fanatismo religioso, opressão às mulheres, entre outros fatos que no Ocidente são considerados violadores de direitos humanos.

Essa associação, que simplifica uma nação de história milenar aos acontecimentos ocorridos nos últimos 35 anos, corrobora com a propagação de um viés simplório e estereotipado sobre esse país. O senso comum difundido desde a Revolução Islâmica, de 1979, até o polêmico programa nuclear iraniano, já no fim da década de 2000, ofusca a possibilidade de uma análise mais aprofundada – e cética – sobre esse povo.

O poder de construção da realidade exercido pela mídia tem grande relevância nesse processo. A credibilidade dos veículos de imprensa induz o espectador a “comprar” aquilo que está sendo noticiado como verdade, não em razão de o receptor ser alienado, mas sim pelo fato de a carga simbólica recebida ser difícil de contestar. Desde a idealização da pauta até a chegada da notícia ao espectador, que se apropria dela e lhe atribui uma interpretação, as várias significações de um determinado fato cada vez mais se distanciam do que seria essa “verdade”.

Diante de um quadro tão pessimista para a imagem do Irã, eis que surge um programa como o Não Conta Lá em Casa, prometendo mudar, ou pelo menos entender, o senso comum que há sobre o país a partir de suas próprias representações.

Como parte da mídia, o Não Conta Lá em Casa também realiza seu poder de construção da imagem do Irã ao tentar interpretar o cotidiano do país de uma forma diferenciada. Nesse exercício de “nadar contra a maré” é que desponta a real possibilidade de mudança de visão. A iniciativa por si só já é de grande valia, pois facilita a compreensão e a possível desmistificação do preconceito que há sobre o Irã e suas origens.


O outro Irã


"Documentário Jornalístico e Função Social: A contribuição do Não Conta Lá em Casa para a construção da imagem do Irã" é o nome do Trabalho de Conclusão de Curso que analisa o modo como o NCLC enxerga a nação. A viagem ao Irã ocorreu em 2009, durante a primeira temporada do programa.

Diferentemente do estereótipo que o país carrega, o 
Não Conta Lá em Casa tende a fazer quase uma propaganda positiva do Irã. A equipe evoca o senso comum associado a esse povo e, ao longo de encontros, entrevistas, passeios e outros fatos ocorridos naquele breve cotidiano durante o qual Leondre, Bruno, Felipe e André estiveram viajando pelo país, o discurso do NCLC constrói, pouco a pouco, uma nova imagem do Irã.

O viés do discurso do programa vai sendo amenizado a cada etapa da viagem: no início, apenas Felipe e Bruno expressam curiosidade e confiança para ir ao Irã, enquanto os outros temem a viagem; durante as primeiras entrevistas, os quatro se deparam com um povo gentil e afável, diferente da visão preconceituosa que eles próprios tinham; por fim, a atração assume que a viagem ao país foi tranquila e surpreendente, que lá os apresentadores fizeram muitos amigos e que a experiência fora tão boa que poderia se repetir.

A tentativa de desmistificar um estereótipo não é apenas uma forma de suprir uma curiosidade, mas sim de ser responsável. Mostrar uma faceta desconhecida de uma nação frequentemente associada a fanatismo e terrorismo é dar voz a ela e permitir que o resto dos povos a conheça para além do senso comum. Isso é o exercício de uma função social.

Informar e, sobretudo, orientar são parte da atividade jornalística e consequência de seu poder de atingir a grande massa. O jornalismo exerce um serviço público quando proporciona ao receptor da mensagem os elementos necessários para que ele possa interpretar determinado assunto e formar um juízo crítico sobre ele. O exercício da função social colabora para um melhor entendimento dentro de uma comunidade e também entre os povos em relação à temática tratada, impulsionando, ainda, a ação em torno no bem comum.

Não Conta Lá em Casa dá sua contribuição para o exercício de uma função social no jornalismo quando possibilita ao espectador refletir sobre o Irã de outra maneira, mesmo que de forma ocidentalizada. A tentativa do documentário de mudar uma imagem há décadas marcada por estereótipos e preconceitos já é uma forma de contribuir para a democracia entre os povos, sendo uma forma, portanto, de exercer uma função social.



A monografia

A pesquisa "Documentário Jornalístico e Função Social: A contribuição do Não Conta Lá em Casa para a construção da imagem do Irã" está disponível para download. Abaixo, uma breve explicação sobre o tema.




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